16 de jan. de 2012

Bloco Montagem

   Podemos dizer então que o emprego da montagem permitiu uma passagem histórica entre dois modos de articulação da forma na arte: de um cuja coerência se baseava num referente externo e reconhecível (como seria a garrafa na obra cubista) para outro de coerência estrutural e auto-referente, isto é, baseada nos próprios procedimentos e materiais da obra (como as propriedades dos diferentes metais na obra construtivista). Assim, a montagem colaborou para a liberdade formal e para maiores possibilidades de reinvenção e abertura da estrutura da obra de arte. Isso, por sua vez, culminaria na idéia de uma estrutura transitória, reversível ou modificável, que ganhou força sobretudo a partir dos anos 50.
   Dentre as obras vistas neste bloco, considere especialmente a de Raoul Hausmann e a de Dziga Vertov. Reflita sobre como cada uma estabelece articulações próprias entre os seus elementos, envolvendo os espectadores em dinâmicas perceptivas bem complexas.
   Discuta com seus colegas algumas semelhanças e diferenças entre as experiências produzidas pela montagem nas duas obras.

 
 
Boa noite para todos!

Pois é, temos como uma das obras para debate neste fórum o famoso filme do russo Vertov. Ainda que realizado no já longínquo ano de 1929, o filme continua a ser uma grande referência cultural na atualidade. Prova disso é o projeto desenvolvido recentemente pela artista canadense Perry Bard e denominado MAN WITH A MOVIE CAMERA: THE GLOBAL REMAKE, um experimento em dados do cinema para o século 21. Vale conferir!
Composto por cenas que não ultrapassam 20 segundos e com a narrativa de acontecimentos que se desenvolvem em único dia, o filme de Vertov apresenta um ritmo muito intenso. Também na colagem de Hausmann podemos podemos sentir um forte comprometimento com o dinamismo das imagens. Então, vamos começar a debater sobre o modo como estes artistas se valeram da estratégia da montagem!


 
Resposta:
   Pouco antes da Primeira Guerra (1914-18), escritores e artistas plásticos se propuseram a criar formas de arte sobre funções primárias, que podem ser comparadas às expressões de uma criança antes de dominar a fala, são expressões anteriores à construção da linguagem. Assim surgindo o movimento Dada (Dadaísmo), na Suíça, tendo como líderes Tristan Tzara, Hugo Ball e Hans Arp. Dada é em suma a negação total de todo o mundo artístico, apesar disso, essas expressões do dadaísmo nos fazem refletir sobre a arte, pois percebe-se que há particularidades inerentes às culturas. Há expressões primárias próprias a algumas culturas e ausentes em outras, da mesma forma que um bebê brasileiro não grita da mesma maneira que um bebê alemão. Há uma aquisição imediata do ser, ouvindo a voz dos pais, do ambiente, além de conformações fisiológicas, tudo isso variando de uma cultura para outra. O dadaísmo nos mostra, contudo, que há outras maneiras de articular os fenômenos sonoros, representando ainda uma grande evolução em matéria de expressividade. Os artistas buscam encontrar novos meios de expressão demonstrando o que descobriram nos sentimentos de sua época.

   Assim, logo após a Primeira Guerra, se pensava na quantidade de tabus que a sociedade mantinha em relação a esses gestos primários. Portanto, usar esses elementos de expressão primária será um elemento de reivindicação emocional forte, quebrando tabus descobre-se emoções que antes não teriam sido empregadas. Nas artes plásticas Miró se propõe a colocar em pintura gestos empregados pelas crianças, portanto procurando trabalhar com elementos anteriores à construção da linguagem. Às gerações seguintes coube o trabalho de estruturar essas novas descobertas de expressividade. Desta forma os movimentos artísticos da era moderna traziam consigo um desejo de uma nova perspectiva, uma nova visão sobre as coisas, de transgredir e também de recriar, Hausmann e Vertov mostram de forma clara este novo momento.

   Hausmann, que fez parte do movimento Fotomontagem, utilizava a técnica da colagem para manifestar suas aspirações e também para criticar a sociedade da época. Em ABCD, temos um homem, no caso, o próprio Hausmann, no desejo de querer falar ao mundo tudo que está em sua mente. O aparente caos da obra é apenas uma forma de gritar a uma sociedade devastada pela guerra que está na hora de pensar diferente.

   Vertov, sendo parte do movimento Construtivista, também trabalha esta crítica da vida que se surge no pós-guerra e traz no seu filme Um Homem Com uma Câmera, o olhar sobre o ritmo acelerado das novidades da vida moderna, assim com uma câmera, ele utilizou pela primeira vez as fusões, o fracionamento de cenas, congelamento de imagens, câmera lenta e câmera rápida.

   Vale salientar que o cinema se define essencialmente por montagem e com o passar do tempo o cinema foi se aprimorando em seus aparatos tecnológicos, narrativos e métodos de produção até chegar aos dias de hoje.

   Cada autor, a seu modo, expressou o seu olhar e seus sentimentos, Hausmann como fotografo e dadaísta expressou-se inserindo em sua foto silábas, e Vertov como construtivista e cineasta produziu um filme onde se alterna o que se vê com quem vê.

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