16 de jan. de 2012

Unidade 7

No texto “Arte e modernidade – entre fins e recomeços”, Roberto Conduru apresenta como uma das condições da arte a estrutura de “jogo”, em que, além do artista e do público, outros agentes e instâncias do sistema cultural e econômico interagem na construção dos significados de uma obra. Existe um complexo processo de significação e valoração do trabalho de arte que não se baseia apenas em dados objetivos, como as técnicas ou os meios empregados na obra: são igualmente determinantes os interesses de forças institucionais, culturais e mercadológicas.

Segundo o autor, a consciência de todas essas forças atuantes na arte é especialmente característica nos artistas desde a década de 1960, quando seus trabalhos se tornaram mais reflexivos e críticos com relação ao chamado “sistema de arte”. Diferentes estratégias artísticas passaram, então, a revelar e a testar os limites desse sistema. Uma delas foi intervir diretamente nos espaços expositivos, muitas vezes identificados com a força das instituições de arte. Tome, por exemplo, a obra “Cortes”, de Carl Andre, estudada no bloco Montagem. Procure refletir sobre a afirmação do autor de que o minimalismo teria se constituído como uma espécie de ação artística, que questionava a função cerceadora do sistema cultural.


A idéia de que a arte seria uma ação é, de fato, central para a arte contemporânea. “Cortes” mostra como os artistas passaram a se interessar cada vez mais por ocupar, modificar ou criar situações temporárias em galerias, museus e outros espaços públicos, em vez de criar objetos autônomos. O trabalho se tornava, portanto, a própria ação realizada naquele lugar, durante o período destinado à fruição pública. Negando o status do objeto (quando a obra “Cortes” é desmontada, sobram apenas tijolos e fotografias) e afirmando o valor da ação e da fruição, os artistas se opunham a valores vigentes, baseados na permanência, na unicidade e em significados instituídos.

O texto menciona trabalhos de outros artistas que funcionam contra a “lógica de domesticação” dos sistemas culturais e econômicos. A intervenção urbana de José Resende, que vimos no bloco Repetição, e a performance “I like America and America likes me” (“Eu gosto da América e a América gosta de mim”), do alemão Joseph Beuys, são duas ações artísticas em lugares públicos que procuraram transformar o “jogo da arte” em diálogos críticos com o público. No primeiro, a ação do artista altera drasticamente a paisagem, abrindo possibilidades de experiência e sentidos imprevistos em um lugar desvalorizado, esquecido. No segundo, o artista se confinou por cinco dias em uma galeria norte-americana junto com um coiote, que é um animal-símbolo dos EUA – uma declarada provocação aos valores do sistema cultural norte-americano. Pesquise mais, na Internet ou em outros materiais, sobre as ações artísticas de Beuys. Aproveite para pesquisar também o trabalho de outros artistas citados, como Richard Serra e Jenny Holzer – duas referências fundamentais para a prática contemporânea da arte como intervenção crítica em contextos públicos, sobretudo urbanos.

Ao longo do século XX a arte aprofundou a sua função crítica com relação aos sistemas de práticas e valores instituídos – sua força poética passou a estar ligada à capacidade de problematizar, questionar e testar esses sistemas. Considere, agora, a atividade criativa em seu campo profissional. Reflita sobre as forças culturais e econômicas atuantes na produção e na circulação dos objetos e imagens produzidos com essa atividade. De que maneira a criação nesse campo poderia ser uma espécie de ação crítica? Ou seja, como poderia chamar a atenção de seus usuários/clientes para as relações e valorações em que estão envolvidos, nos circuitos da cultura e do consumo? O que seria “promover diálogos críticos” com esse público?

A partir dessas reflexões, dialogue com seus colegas: o que é, do seu ponto de vista, ser reflexivo e crítico na criação profissional?

 
Resposta:
 
Partindo do pressuposto que nós olhamos, cheiramos, tocamos, ouvimos, nos movemos, experimentamos, sentimos, pensamos,..., e que o corpo é ação e pensamento, pode-se afirmar que somos um todo em relação ao mundo que nós cerca, pois precisamos interagir com o meio para que possamos construir o nosso conhecimento e fazer novas descobertas. Assim deveríamos estar atentos e abertos às experiências e ao mundo, sem medo dos riscos, viver intensamente, maravilha-se com o todo.

Neste sentido, o pensamento se dá na ação, na sensação, na percepção, através do sentimento. Através deste processo de construção e de descoberta do mundo, vamos ampliando os horizontes, sonhos e conhecimentos na relação com outras pessoas, com o mundo, com os objetos, adquirindo com isso as percepções que influenciarão toda as subseqüentes compreensões do contexto de vida.

Assim é a Arte em todo seu contexto. Pensar a arte é também pensar o processo de poetizar, fruir e conhecer Arte. Poetizar no sentido de se encantar com tudo que nos rodeia, sendo capaz de se emocionar, criar, imaginar, fantasiar. Fruir é sem dúvida nenhuma, aproveitar o momento da descoberta como se fosse único e todo seu, a única possibilidade de prazer e encantamento. Já o conhecer é algo que simplesmente se une para dar sentido e significado a tudo, seria a razão das descobertas, das vivências, das experiências, da evolução, do progresso, da transcendência. A arte é, então, pensar na leitura e produção na linguagem da arte, o que, por assim dizer, é um modo único de despertar a consciência e novos modos de sensibilidade, emoção, medos, conhecimentos.

A arte propicia o desenvolvimento do pensamento e da percepção estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana. A arte solicita a visão, a escuta e os demais sentidos como portas de entrada para uma compreensão mais significativa das questões sociais, valores que governam os diferentes tipos de relações entre os indivíduos na sociedade.

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