16 de jan. de 2012

Bloco Profusão

   No texto Moda e figurino, Dario Caldas afirma que os estilistas são antenas aguçadas de seu tempo, capazes de captar desejos, mudanças em curso e visões de futuro. Afinal, os estilistas lidam com uma linguagem estética que está muito próxima do dia-a-dia da maioria das pessoas: a indumentária, que cobre nossos corpos de cores e formas, com a qual exteriorizamos algumas de nossas idéias e atitudes.
   Linguagem sensível ao “espírito do tempo”, a moda estabelece diálogos com outras áreas de produção e expressa transformações sócio-culturais, como nos vários exemplos dados pelo autor.
   A obra de Giacomo Balla no bloco Movimento, a de Madaleine Vionnet no bloco Leveza, a de Alceu Penna no bloco Fragmentação e a de Christian Lacroix no bloco Profusão também podem ser tomadas sob o ponto de vista da sensibilidade às questões prementes de seu tempo.
   Analise o que essas obras tem de continuidade com o passado, afinidade com o presente e projeção de futuro.
   Elabore um texto, com no máximo duas laudas de extensão, e envie ao tutor.

 
Texto: Moda e Arte

   No começo do século XX, quem iniciou as investigações de moda e arte foi Giacomo Balla (1871 – 1958), a representação máxima do futurismo italiano. Os ternos planejados por Balla em 1913, segundo seu Manifesto Futurista, eram “confortáveis, práticos, dinâmicos, agressivos, violentos e iluminados”, em seu figurino para balé futurista, de 1930, foi, com certeza, fator importante na conexão da moda com outros campos da arte. Tal união foi definitiva para a evolução da moda alcançar um novo patamar.
   A francesa Madeleine Vionnet (1876 – 1975) é considerada uma das grandes estilistas de todos os tempos. Ela criava seus modelos em miniaturas de bonecas e só depois de alcançado o resultado passava para a escala humana. Aparentemente, suas roupas tinham linhas simples, mas por trás de seus modelos existiam grandes estudos de corte e drapeados. Considerada a rainha do corte enviesado, Vionnet encomendava seus tecidos com quase dois metros a mais para poder esculpir seus drapeados. De certa forma, a estilista redescobriu o corpo feminino, livrando as mulheres do espartilho e dando conforto e movimento através da forma e do corte de suas roupas. Vionnet criou modelos que mostravam as formas naturais da mulher, inspirada pela arte grega antiga, cada peça parecia flutuar livremente ao redor do corpo. Como uma costureira especializada, Vionnet sabia que o tecido cortado em viés poderia ser drapeado para concordar com as curvas do corpo.
   Alceu Penna (1915 – 1980) tinha como trabalho mais conhecido a seção “Garotas”, coluna impressa em cores que, entre 1938-1964, ocupou espaço de destaque nas edições semanais da revista O Cruzeiro e que apresentava semanalmente, uma diversidade de ousadas jovens, acompanhadas de textos bem-humorados, as “Garotas” eram desenhadas com tra¬ços que ficavam entre o sensual e o lúdico, vestidas sempre na última moda e desfrutando das praias, bailes, cinema, enfim, do melhor que a vida social do Rio de Janeiro podia oferecer, durante 26 anos. A seção pode ser considerada uma das mais populares da revista, chegando até a ganhar, em 1943, uma versão para o rádio, transmitida pela Rádio Tupi do Rio de Janeiro.
   Penna em uma viagem aos Estados Unidos entre 1939-1941 (que coincide com a participação do Brasil na Feira Mundial de Nova Iorque), distanciando-o do Brasil e colocando-o em contato direto com um país que começava a ser visto como “modelo de desenvolvimento” econômico e cultural pelos brasileiros. Esse contato mais próximo com a moda internacional impulsiona o ilustrador a observar as particularidades nacionais. A preocupação em evidenciar o nacional através da moda aparece já em uma das primeiras colaborações de Alceu Penna para a seção de moda da revista O Cruzeiro, denominada “Verão em Catalina”. Veiculada em 16 de novembro de 1940, trazia ilustrações apresentando maiôs e roupas de verão usados nas praias daquela ilha californiana. No texto, o ilustrador esclarece que tais desenhos foram realizados como forma de apaziguar a saudade das morenas cariocas. Ou seja, a primeira “inspiração” por ele encontrada para a seção de moda não foram os modelos desfilados no verão americano, mas a saudade das praias e morenas do Rio.
   Carmen Miranda e Alceu Penna se conheceram por volta de 1935, no Cassino da Urca, mas se aproximaram de fato em 1939, quando ele realizava a cobertura das apresentações da cantora na Feira de Nova Iorque, é nesse período que o ilustrador passa a criar alguns fi¬gurinos para a cantora e o Bando da Lua, sendo o responsável pela elaboração do costume de inspiração “cubana”, composto por calça de smoking, sapatos e camisas listradas, usado pelo grupo em algumas apresentações no exterior.
   O estilista Christian Lacroix (1951) é conhecido por suas criações no mínimo, exuberante no corte e especialmente nas cores que utiliza. Seus tons favoritos são o vermelho e o laranja, além de ousar outras parcerias entre o azul marinho e o branco, e entre azuis e rosas vibrantes. Sua grife é considerada parte do legado cultural da França, pois Lacroix foi um dos estilistas mais influentes da moda na década de 80. Tendo sido responsável pelo figurino de estrelas como Madona.
   Por terras brasileiras, Santos Dumont (1873 – 1932) desenvolveu saltos para seus sapatos e golas bem mais altas e engomadas para suas camisas, tudo com o objetivo de angariar uns centímetros a mais a sua pouca estatura. Dumont tinha os dois pés na arte e desenvolveu projetos arquitetônicos, ele também foi responsável pela invenção do relógio de pulso, que era amarrado com um lenço. Outros artistas que investigaram suportes para o corpo foram: Lygia Clark (1920 – 1988) com suas máscaras sensoriais e séries de roupas; Hélio Oiticica (1937 – 1980), com os Parangolés, e Tarsila do Amaral (1886 – 1973), que usava estamparia do pintor francês Raoul Dufy (1877 – 1953).
   Elsa Schiaparelli (1890 – 1973) e Salvador Dali (1904 – 1989) formaram uma das mais incríveis parcerias de moda e arte. O chapéu-sapato, o chapéu-lagosta, a bolsa-telefone, o vestido com estampa de moscas e o tailleur-escrivaninha, com bolsos em forma de gavetas, foram algumas das criações da dupla.
   Vários são os exemplos da moda que revive outras épocas, trazendo para o presente o que já foi estilo, dando um novo conceito e trazendo algo novo. Todos os anos, nos desfiles de moda vemos releituras do passado, novos pontos de vistas sobre estilos que fizeram parte do passado e se apresentam com um novo conceito que farão parte da moda que estará no cotidiano das pessoas no futuro e assim a arte inspira a moda e vice-versa.

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